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Foto do escritorkaká werá

A BORBOLETA AZUL

No turbilhão de concreto e asfalto que é São Paulo, onde a pressa dita o ritmo frenético das horas e os ruídos dos motores abafam qualquer suspiro de natureza, eis que surge um intruso inesperado: uma borboleta azul. Não, não é um devaneio primaveril, tampouco uma ilusão de ótica. É real. Uma borboleta azul, resplandecente em sua singularidade, desafia a monotonia do cinza urbano.

É como se um pedaço do céu tivesse se desprendido e decidido dançar entre os carros engarrafados, deslizando entre os edifícios impessoais que se erguem como muralhas de concreto. Onde não há verde, onde não se avistam parques ou jardins, e onde até mesmo as sacadas dos prédios se mostram despidas de vida vegetal, ali ela está, a borboleta azul, um paradoxo ambulante na selva de pedra. E de repente, eu ali,, preso em minha própria rotina, questiono a origem e a missão desse ser com um par de azul na forma de asas.. De onde teria vindo? Para onde se dirige? Será que, em meio ao caos e à agitação da metrópole, ela busca algo além do simples sobreviver? Seria sua missão deixar um rastro de cor e beleza na vastidão monocromática da selva urbana?

Enquanto o trânsito avança a passos lentos, a borboleta continua seu voo solitário, indiferente ao frenesi ao seu redor. Seu azul brilhante é um contraponto à paisagem cinza que a cerca, uma pequena nota de esperança em um cenário muitas vezes desolador.

E assim, enquanto os buzinares e as sirenes ecoam pelas ruas, a borboleta azul segue seu curso, talvez sem destino definido, mas certamente deixando para trás uma marca indelével da efêmera beleza que pode florescer até nos ambientes mais inóspitos. Talvez, só talvez, ela seja a própria poesia em voo, uma lembrança de que, mesmo no coração da cidade, a natureza encontra uma maneira de se fazer presente. 

Esta suave presença em seu vôo me lembrou, por associação, um poema de Carlos Drummond de Andrade, chamado “a Flor e a náusea”, onde em um determinado momento o poeta se espanta com uma flor que nasceu na rua, por uma fresta em uma calçada cinzenta. Admirado, ele escreve: “... uma flor nasceu na rua/Passem de longe/  bondes,ônibus, rio de aço do tráfego./Uma flor ainda desbotada/ilude a polícia, rompe o asfalto./Façam completo silêncio, paralisem os negócios,garanto que uma flor nasceu.”

No meu caso, garanto que uma borboleta azul driblou em vôo o trânsito cinzento da rotina da cidade.



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